Era o final do dia. Estava a deprimir, os dias ficavam mais pequenos, mais sisudos, mais tristes. E eu também. Esse dia tinha sido em vão ,o anterior também, e os que se seguiriam iam do mesmo jeito. Era final de verão, ameaçando chuva.
Tinha tanto para fazer, deixei por fazer. Tinha tanto para viver, deixei por viver. Era vegetal, sem acção, sem reacção. Boneco inanimado, abandonado. Fiquei parada, a vaguear numa nuvem cinzenta, no meio do nada, sem nada, por nada.
Dei por mim e já era tarde, já tinha acabado o dia, mais um dia acabado. Tentei recuperar algum sentimento, sentir algo, e pedi-te ajuda. Foste fiel, e por momentos senti-me bem. Mas depois tiveste que ir, e eu fiquei do mesmo jeito, a pairar naquela nuvem.
Fui passando as memórias de algumas conversas, até soltei alguns risos, sempre me fizeras bem, apesar de tudo. Deixei a minha imaginação usufruir do espaço e fazer gato-sapato do papel que empunhei à minha frente. Até que saiu algo com jeito, sem esforço. Depois fui apenas desabafando, por aqui e por ali. Falando e divagando, coisa que deveria fazer mais vezes. Recuperei um pouco da alegria, mas a melancolia continuava aqui, não dissuadia, não evaporava. Arrumei o quarto, passeei-me por ele, depois deitei-me. Algo não estava bem, oxalá fosse tão fácil organizar a minha cabeça, como é fácil organizar o meu quarto. Deixei-me estar a pensar numa música, e a pensar em tudo. Mas o problema é que quando pensamos em tudo, esse tudo dispersa-se e transforma-se em nada, voltei outra vez à nuvem. Já não iria fazer nada daquele dia, estava perdido. E como em todos os dias em que fico acordada até tarde, a fome rapidamente chega, fui à cozinha, olhei em volta, passeei-me por ela, pensei, voltei a pensar e nada. Nada do que ali estava fazia sentido, nada satisfazia a minha fome, voltei ao quarto, de mãos vazia, de estômago vazio, de alma vazia. Sentei-me em frente ao computador e escrevi.
Há dias assim… :/
Há dias assim… :/
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